Apanho o comboio,
no regresso a casa,
mais um dia que passou,
o habitual,
"mais um dia pá reforma|",
o telefone toca,
" - pai comboio daqui a 10 minutos,
vai-me buscar à estação!"
nada como estar no sitio certo na hora certa,
sento-me na explanada,
peço uma imperial para acalmar a sede,
matar a secura que me invade a boca,
contemplo quem passa,
gole ante gole desfile de cores,
vozes iradas,
gritos,
negro,
semblantes carregados,
em rostos sisudos,
cinzento,
o choro de uma criança,
enquanto faz uma birra,
castanho,
preocupações,
caras sérias,
laranja,
bebo mais um pouco,
vislumbro pequenos esgares,
em lábios de diversas formas,
amarelo,
aqui e ali, passos apressados,
pressa de partir ou de ficar,
azul,
tomo mais um trago,
casal de velhinhos,
rosto enrugado de mãos dadas,
prateado,
a meia idade passe ante mim,
sorriem ainda com brilho nos olhos,
doirado,
outro trago,
uma gargalhada,
lilás,
olá com estás,
há quanto tempo,
roxo
uma jovem que olha para o relógio,
suspira, sorri,
verde,
um bebé olha embevecido para sua mãe,
como mais nada existisse no mundo,
rosa,
mais um pequeno gole,
lábios que se devoram,
num abraço apertado,
vermelho,
mais um trago,
alguém que passa e me sorri,
piscam-me o olho,
ora bolas acabaram-se me as cores,
acabou-se me a imperial.
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