Quinta-feira, 27 de Outubro de 2005
Karma
Quando as noites são oceanos.
Insondáveis e obtusos.
Quando os sonhos são reclusos.
Desses beijos profanos.
Quando as palavras se esboroam.
Plenas de inquietude.
Morre lenta a juventude.
Em lamentos que ecoam.
Quando a costa que o mar abraça.
Carpe a ânsia do desassossego.
Os sorrisos fogem para o aconchego.
Do futuro que os entrelaça.
Há sempre um amanhã.
Terça-feira, 25 de Outubro de 2005
Á luz da lua

Corpos banhados pelo luar,
em reflexos de prata,
entregues,
à luz que irradia,
como uma caricia,
de luz,
calor,
invade os sentidos,
desejo
num bailado de luz e sombras,
amantes,
ao luar,
alheios do mundo,
na entrega,
como testemunha,
a lua,
em toda a sua plenitude,
cheia de amor,
reflectida,
em olhos,
perdidos no momento,
de amar
Quarta-feira, 19 de Outubro de 2005
MOre_MaIs
Hoje choveu neste mundo de gente
Não meu!
As crianças riam
não eu!
Ingénua
mas não
Não suporto a chuva e o céu que se abate sobre mim!
Sou mais que o rosto que ofereço ao vento
Sou mais que a cara que a chuva fustiga
Sou mais do que o cabelo que o vento enrola
Sossega! Não sou doida nem nada!
Ingénua
não
Não sou o menos no teu mais
Sou mais
sou a procura !
Hoje choveu
Hoje fui mais
melancólica
Mais busca
procura
do que sou!
Hoje choveu e eu fui mais do que o rosto fustigado pela água fria das nuvens
Hoje fui mulher com mente fervilhante!
Hoje choveu
e mais
More
e mais
Sorri! Entre vento e chuva fui mulher que sorriu
Eu hoje
fui mais sem que se soubesse!
Ri
mais
sem loucura
Hoje foi-me mais difícil ser mais eu
Mas
sem mentiras hoje eu fui
Mais!
Muito mais do que mostrei
do que se viu
essa hoje fui eu!
E tu? Mais ou menos?
Terça-feira, 18 de Outubro de 2005
Quem ....

Quem brinca com o fogo queima-se,
quem se queima abre feridas,
quem abre feridas sofre,
quem sofre chora,
quem chora apaga o fogo,
quem apaga o fogo esquece,
quem esquece não arde,
quem não arde morre,
quem morre liberta-se,
quem se liberta voa,
quem voa sonha,
quem sonha ama,
quem ama arde ....
Segunda-feira, 17 de Outubro de 2005
Rosas

Em círculos,
voam borboletas,
atraídas,
pelo perfume,
das pétalas,
que coroam teu corpo,
rosas vermelhas,
que tapam,
a tua nudez,
os teus segredos,
que meus olhos procuram,
olhos que não vêem,
apenas sentem,
os contornos da escultura,
que é teu corpo,
numa auréola,
borboletas,
num doce aroma,
de rosas.
Quinta-feira, 13 de Outubro de 2005
Quem és tu ???

Quem és tu?
que olhas para mim,
por detrás desse olhar,
que diz tudo,
encanta,
no silêncio se revela,
despe,
de pudores,
acusações,
pecado,
esse olhar que inocenta,
deseja,
Porque olhas assim?
sem temor,
nem rodeios,
sem segredos.
Não tens medo?
que o teu olhar,
me aprisione,
enfeitice,
faça desse desejo,
o meu também?
Quem és tu?
que te encontras do outro lado,
da ponta da vida,
serás a minha alma?
perdida por aí,
à espera que a encontre,
que os nossos olhares se cruzem,
e voltemos a ser,
novamente,
um só.
Terça-feira, 11 de Outubro de 2005
Amantes e Assassinos
No bater nu do corpo contra a solidão encontro essa face oriunda do mundo da confusão. Constato que não tenho poesia nem música, que as corujas que se sentavam no meu ombro voam alto, para lá do firmamento, onde os sonhos que um dia me atrevi a sonhar gargalham zombeteiros face à minha impotência para os alcançar. Não corro, nem ando, encontro-me parado, à espera, como uma criança que se perde numa multidão e sente a imensa debilidade de estar perdida, enquanto espera pela mão sábia que a alumie de novo de encontro à solidez de um peito que tem contornos de lar e cheira a segurança. Olho para as minhas verdades, que aprendi a venerar como se venera a solidez e o abrigo da Estrela do Norte, e reparo que as mesmas são como os girassóis, que de manhã se viram para Nascente e de tarde, como se a alvorada fosse já uma memória distante e fictícia, se viram para Poente, voltando costas ao mundo que, com risos de orvalho, tinham como adquirido migalhas de tempo antes. Sou pó, sou um esboroar de carne e sangue, avesso à estrutura que o tempo edifica na natureza humana, sou fogo-fátuo, que cativa num sadismo de luz, para me esconder célere, para lá da vista mais aguçada, apagando todas as minhas pistas, no bater seguinte do relógio. E sou apaixonado. E sou cruel. Porque enquanto o coração for o maestro que rege esta imensa sinfonia de vida, umas vezes ribombante, outras vezes muda, todos nós seremos sonhos e pesadelos, todos nós seremos amantes e assassinos.