Quarta-feira, 6 de Abril de 2005
Viajei até ti
Viajei até ti,
embalado
pelo tempo,
atravessei mundos,
céus e galáxias,
subi e desci,
ao inferno até,
levado pelo vento,
vaguei por ai,
em busca,
já nem sei de quê,
do que nunca vi,
daquilo que sonhei,
uma parte de mim,
uma parte quem sabe,
de algo maior.
Viajei até ti,
embalado
pela brisa,
o murmuro das ondas,
passeei na areia,
embalado
pelo mar,
olhei o horizonte,
em busca do que nunca vi,
do farol,
que nos guia,
da tua luz,
que indica o caminho,
como num sonho,
viajei até ti ...
Terça-feira, 5 de Abril de 2005
Nasci ontem
Ontem nasci,
não repicaram os sinos,
trompetas não ecoaram dos céus,
no meios de gritos e pedidos,
choros e risos
assim no mundo eu surgi.
Não fui planeado
simplesmente apareci,
vim para o meu fado,
acompanhado por mulheres nuas,
que me levaram a casa ,
escandalizaram as ruas,
e eu ganhei asas.
Cresci
fui cumprindo o meu destino,
traquina e feliz,
diziam que era um desatino,
da vida fui aprendiz.
Sempre inquieto
dei alguns problemas
mantive o espirito aberto
gostava de ir aos cinemas.
A árvore já plantei
será que de algo me esqueci?
semente já fecundei
o livro vou-o escrevendo aqui.
Em homem me transformei
sei aquilo que sou
o meu melhor sempre o dei
não sei para onde vou.
Segredos II - Ausência
Como gostava de te poder dizer a falta que me fazes.
Hoje se calhar mais que nunca, amanhã mais que hoje.
Quero respirar e libertar-me desta saudade que acordou hoje bem cedo comigo.
Apetece-me chorar.
Apetece-me abraçar-te.
Pudesse eu ter-te bem juntinho a mim para me esquecer desta tristeza e sair desta apatia.
Tento não pensar em ti, mas penso e não consigo contrariar.
Fazes-me tanta falta hoje, pudesses tu imaginar.
Hoje que é um dia especial.
Pudesse eu resgatar um sorriso teu.
Pudesse eu ter-te ao meu lado.
Como eu gostava de pedir um desejo.
Sim, tu és o meu desejo.
Aquele que me vestiu de negro.
Choro baixinho, dói-me o peito.
Se puderes pensa em mim como eu penso em ti.
Não queria que me visses chorar, mas choro a saudade que sinto.
Pensa em mim se puderes e enxuga-me as lágrimas, porque hoje eu gostava de pelo menos sorrir um bocadinho.
@ autora desconhecida, de todos os tempos
As edições Plumam publicam num misto de poema e conto mais um segredo, porque em tudo há mistério, até nas coisas mais simples .. a foto também foi dada pela autora eu só tive o prazer de postar :)
Segunda-feira, 4 de Abril de 2005
O brilho das estrelas
Vou-te contar um segredo...baixinho para as estrelas não ouvirem!
O avô foi embora...não por querer.Não!Foi porque o chamaram.Precisavam do brilho dele lá em cima!
Sabes quando te conto aquelas histórias á janela? E quando tu olhas espantado para as estrelas a brilharem lá no alto?
O segredo que te vou contar tem a vêr com esse brilho. Mas tens de prometer que não o contas a ninguém...especialmente á noite.Não quero que as estrelas o escutem...Podem ficar tristes...
As estrelas são as janelas do céu, e brilham de noite porque é a essa hora que as pessoas de quem gostamos muito e que já partiram, vão para as janelas tomar conta de nós! Vão estar atentas para que possamos dormir descansados, sem que nada de mal nos aconteça!
Vês aquela ali, a brilhar muito?? É o avô...Está a tomar conta de ti!
É por isso que dizemos que as pessoas quando vão para o céu estão sempre a olhar por nós. Especialmente á noite, quando abrem as suas janelas, pintando o céu de um tom brilhante.
O brilho das estrelas é na realidade o brilho das pessoas que nos vão deixando. É para que o brilho do céu nunca acabe, que as pessoas que nos fazem bem vão sendo chamadas para o céu....Mas não digas a ninguém...as estrelas podem ouvir e ficar tristes!
Segredos I - Pequeno Baú
Abri o teu pequeno baú.
Aquele que mantinhas fechado com uma simples fita, assim meio a dizer: Não mexas, este é o meu canto, a minha individualidade!
Agora que tinhas partido para longe, para onde já não te conseguia alcançar, senti novamente aquela curiosidade que me assaltava sempre que o via. Assim tão ao alcance da mão, tão indefeso; com apenas um laço a separar-me do seu precioso conteúdo que me queimava, mexia com todo o meu ser.
Sempre que te perguntava o que tinhas ali guardado e me respondias: Nada de especial, coisas minhas!
A minha tentação aumentava! Assim como a curiosidade e hoje confesso, o meu ciúme também.
Olhando o pequeno baú, pensei em ti mais uma vez... Sorri. Um sorriso triste uma vez que já não pertencias ao meu mundo, já não estava junto a mim.
Recordei com dor todos os momentos que passámos, quando o teu olhar, que me deixava sem jeito, cruzava com o meu e me fitava intensamente como que adivinhando o que me ia na mente, os meus pensamentos mais íntimos (e as carícias os beijos que trocamos).
Afastei tais pensamentos pois a dor ainda era recente ainda mexia comigo. Devagar, como se de um ritual se tratasse, desfiz o laço fazendo a eterna pergunta: qual o seu conteúdo? , O que guardas aqui: um diário? O quê afinal, porquê tanto mistério?
Abri o pequeno baú, lá dentro apenas um envelope com algo escrito pelo teu punho para abrires se algo me acontecer/ se algo nos acontecer assim o fiz.
Do seu interior retirei uma simples folha dobrada em quatro. Lentamente desdobrei-a e li o que se encontrava nela escrito com a tua caligrafia....
AMO-TE!...Que se foi esborratando diluída por um pequeno rio que teimava em não parar...
@ Passodianisto
A pedido das edições Pluma fiz este pequeno conto, espero que vos dê prazer lê-lo pois a mim deu-me imenso escrevê-lo. Foi inspirado numa amiga virtual .. espero que gostes .. a foto é a tua ....
Sexta-feira, 1 de Abril de 2005
Segredos - Segredos de Infância
Toda a minha infância foi pautada por segredos. Lembro-me da minha mãe segredar algo ao meu pai, da minha avó segredar á minha mãe, do meu avô segredar á minha avó. SEGREDOS!!! SEGREDOS!!! Segredos....
Até os nossos passos em casa eram «segredados».
Quando cresci e me tornei «gente», foi assim que na sabedoria da minha avó me tornei alguém com quem se poderia também segredar (não entendi muito bem em que altura ela assumiu que eu já era GENTE) jurei a mim mesma que os segredos seriam «enterrados» bem fundo, calcados e afastados.
Muitos anos depois conclui que os meus esforços de um funeral digno aos «segredos da minha infância» tinham sido infrutíferos. Quantas vezes não parei de teclar um relatório no escritório e abstrai-me de todos, voltava a passear em «segredo» pela minha casa, a ouvir os sussurros, a ver os olhares cúmplices da minha família.
Os meus pensamentos nessas alturas eram velozes, interrogava-me constantemente sobre o conteúdo dos «segredos» e a razão porque nunca foram compartilhados comigo???
Se bem que tenha sido sempre essa a minha opção... desde que fui formalmente reconhecida como «Gente».
Naquele Verão, naquelas férias, resolvi voltar á minha casa e aos meus «fantasmas»...Já não via a minha avó há algum tempo e enchi-me de coragem
para ter uma conversa em «segredo» com ela.
.
Tinha que desfiar aquele novelo...
Naquela tarde depois de termos bebido uma limonada fresquinha no alpendre, sentei-me aos seus pés e mais com o olhar do que com palavras, pedi-lhe para me revelar os «segredos», os «murmúrios», a cumplicidade da «partilha» das palavras na nossa família.
Ela sorriu com o olhar,- essa é uma característica da nossa família sorrir com o olhar - e pediu-me para lhe ir buscar uma caixinha de madeira, que estava colocada sobre a cómoda antiga. Entreguei-lhe a caixinha, que me hipnotizava desde criança, ela abriu-a no colo, e de lá saltaram , pétalas de flores secas, fotos antigas da nossa família, os meus dentes que deixei para a fada do dentinho, a foto da minha primeira bicicleta, as minhas festas de anos, os olhares sorridentes da minha família.... Olhei para a minha avó - que continuava a sorrir com o olhar - sem entender muito bem o conteúdo daquela caixinha e a sua relação com os «segredos ».
E ela muito baixinho, de uma forma que as palavras se misturaram com a brisa, com o cheiro da terra, das recordações, dos murmúrios do passado, e do presente, sussurrou ... o segredo.
- Amor incondicional, partilha, cumplicidade e amizade. Quando eras pequena, asseguramo-nos que estarias rodeada por tudo isso e os nossos «segredos» eram a forma de te proteger, surpreender e amar. Esta caixinha é a prova viva disso...
Pela primeira vez senti que também sorria com o olhar. E segredei também eu palavras ao vento... ali na minha casa, onde eu era «Gente»....
@ autora desconhecida de todos os séculos
As edições Pluma iniciam assim um novo ciclo de pequenos contos sob o tema "Segredos" alguns de autores "desconhecidos" outros não. Tentaremos arranjar fotos que se adequem aos contos :-)
Sedução VIII - Desejo
Gostava de te sentir
como um homem a uma mulher
tocar a tua pele
faze-la arrepiar
fazer-te suspirar
entrar nos teus segredos
como quem descobre um mundo novo
como um menino
a quem deram um brinquedo
gostava de te ter
sentir-te entre os meus braços
saber ao que tu sabes
provar esse teu gosto
cheirar o teu cabelo
levar-te ao céu e gritar
adorava um dia
o teu desejo poder matar
@ autor desconhecido já nem sei de que século
As edições Pluma, na contiinuação do tema Seduções publicam mais um poema de um ilustre desconhecido com foto do Passadito hehehe