Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Incoerências

TN3d_humans_021[1].jpg


Não sei que escreva
não sei que diga
não sei que faça
será que o que escrevo
se coaduna com o que digo
é coerente com o que faço?
Por vezes escrevo
o que digo
e faço.
Será que a escrita
é uma nova forma de se dizer
o que se fez?
Ou nada do que escrevo
é aquilo que digo
e faço?
pois simplesmente
nada escrevo
digo
ou faço.
publicado por crowe às 09:32
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Sexta-feira, 11 de Fevereiro de 2005

Choro de mulher

Chora porque está viva
chora porque sente
chora por ninguém
chora por toda a gente

Chora será por ela
chora será por mim
é um choro eterno
aquele que nunca tem fim

Chora sem razão
chora com sentido
chora porque não
que terá acontecido

Chora do coração
chora será por amor
enquanto escuta a canção
chora para passar a dor


publicado por crowe às 14:27
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Segunda-feira, 7 de Fevereiro de 2005

Visões II ( juntos para sempre)

Acordei...
Sobressaltado, coração palpitante, gotas de suor corriam pelo meu rosto.
Aquele sonho ... verde ...... luzes .. gritos ... choro ... luz .. dor... sirenes.
Era a última noite que passava naquela casa. Tinha querido torna-la inesquecível, algo para me recordar quando me sentisse mais só, quando estivesse num daqueles momentos nostálgicos de saudades do meu país. Mas simplesmente não o conseguia, a minha mente voava para aqueles olhos verdes ... azuis.
A minha memória percorreu estes últimos dois meses, o reencontro com o João, a sua companheira Cristina, a quem carinhosamente chamava Nina. Os momentos que passamos os três juntos, as idas a espectáculos, os jantares o relembrar dos nossos cantinhos preferidos quando miúdos, os novos que entretanto descobri ... o seu sorriso, o seu riso ... olhos verdes .. azuis. Tinha simplesmente que esquecer que existia, a minha mente parou no dia que estava a terminar. O João tinha-me convencido a vender-lhes a casa, eu só a queria alugar, mas ele foi insistindo e hoje acabamos por fazer a escritura. Parte de mim, naquela cidade, desapareceu com aquele simples acto de assinar um papel. Convidaram-me para almoçar mas estava sem espírito, e além do mais tinha ir fazer uma últimas compras pois amanha embarcava para o Canadá para uma nova vida.
Olhei para a casa e vi os meus poucos pertences emalados, apenas levava a roupa os livros e os CDs, tudo o resto tinha sido incluído na venda da casa.
Naquele dia o João não me parecia bem, o que usei também como desculpa para não aceitar o convite para almoçar, precisava estar só, de me refugiar num dos meus cantos. Depois de muito deambular lá me resolvi ir fazer as compras pois precisava de roupa quente e acabei por parar no sitio do costume, geralmente o local onde nos encontrava-mos os três, e também onde vi pela primeira vez aqueles olhos .. verdes ... azul.
Café numa das mãos, cigarro na outra, procurava uma mesa e para meu espanto, olhos verdes .. azuis que sorriam para mim num mudo convite para me sentar. Sorri , sentei e ficamos em silencio naquela troca de olhares.
O João tinha ficado em casa pois não se sentia muito bem. Ultimamente andava muito cansado, e a conversa foi seguindo o seu rumo próprio, até ao dia em que nos conhecemos, risos .. nem sei porquê corei, pensei que já me tinha curado disso .. sorriu. A sua mão tocou a minha ... corei, (teria sido propositado, intencional) .. corei novamente, desta vez riu. Fiquei sem saber que fazer, levantei-me e tentei fugir dali, segurou-me no braço como que a dizer .. não vás...
Olhei para o relógio, e despedi-me os seus lábios roçaram os meus, senti o sangue a aflorar à minha face ... olhos verdes ... azuis ... sorriu.
Perguntou-me como ia para casa com aqueles sacos todos, disse-lhe que apanhava um taxi. Ofereceu-se para me levar o que acedi.
Paramos na garagem do prédio, fiquei sem saber se a convidava a subir ou não, um lado de mim dizia que sim, o outro que não. O meu dilema terminou pois o seu telemóvel tocou. Era o João a dizer que não se sentia muito bem. Ficamos um momento calados entregues aos seus pensamentos.
Disse-lhe adeus ... olhos verdes ... azuis .. marejados por lagrimas salgadas, senti uma tristeza imensa, beijou-me docemente os lábios ...
– “quem sabe, numa próxima reencarnação?” .. sorri ...
– “quem sabe, espero bem que sim” ... sorriu ... – “Adeus Nina”
– “Adeus ... até amanha, pois vamo-nos despedir de ti ao aeroporto” .. sorri-mos.
O jantar não me animou, bem tentei tornar a noite inesquecível mas não o consegui a minha mente voava para aqueles olhos ... verdes ... azuis ... o seu sorriso ... os seus lábios que tinham incendiado os meus, o melhor seria dormir e esquecer tudo aquilo.
Acordei sobressaltado já há muito tempo que não tinha um sonho assim ... sirenes!!??? Era o telemóvel que tocava. Atendi, alguém chorava do outro lado. Parecia-me a voz da Nina. Entre soluços e algumas palavras lá consegui perceber que o João tinha tido um enfarte, que se encontrava no hospital, que estava muito mal.
Vestir a correr pegar na moto, as suas palavras não me saiam da cabeça, coração .. enfarte, teria ouvido bem ... transplante?? Devia ter feito confusão. A estrada passava por mim a alta velocidade, carro, carro, curva, coração ... sinal verde ... peão!!!! ... travar ... desviar ... luzes... gritos ... dor ... sirenes ...
Ouvi alguém chorar, ainda estaria a dormir, teria sido tudo um pesadelo?? Que dor era aquela no meu peito, não me conseguia mexer, experimentei abrir os olhos.
João!!?? Como te sentes? Olhos verdes .. azuis .. corei .. mas não sorriu. Abraçou-me .. lagrimas corriam pelo seu rosto, só a ouvia dizer .. a operação correu bem .. mas ... o nosso amigo .. choro... o nosso querido amigo.
Fez-se luz ... dor muita dor .. lagrimas ... afinal continuava-mos todos juntos.
publicado por crowe às 10:30
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Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2005

Mar

Onde foi o mar
que já nem a sua brisa sinto
terá ido para parte incerta
farto de tanto vai e vem
será que se acabaram as marés
que a lua vai sentir a sua falta
onde foi o mar
que já não se espelha no meu horizonte
não me deixa um sorriso no rosto
terá ido para outras paragens
encontrado outras personagens
de contos de magia
embarcado noutras viagens
terá finalmente encontrado a paz
deixou-se ficar assim
embalado pelas marés do mundo

publicado por crowe às 17:51
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Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2005

Eterno adeus

Apesar da ausência
não senti a tua partida
continuo na inocência
á espera da despedida

Fiquei da braços abertos
aguardando a tua ida
sentidos bem despertos
para o dia da despedida

Continuo à espera
porque não perdi a esperança
que pelo menos nesta era
fique algo mais que a lembrança

Apesar da tua ausência
ainda não te foste embora
estás em permanência
pois não chegou a tua hora

De braços abertos estou
de braços abertos ficarei
a nossa hora ainda não soou
de ti nunca me esquecerei


publicado por crowe às 11:48
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Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2005

Fragmentos de um sonho

És para mim um mistério
alguém que não consigo alcançar
estás para lá da minha imaginação
não te consigo desvendar
em nebulosa teia te encontras
pois remo contra a maré
porque será que tanto escondes
não consigo vislumbrar quem é
pacientemente procuro
no meio de tal nevoeiro
por aqui esta tudo escuro
só fragmentos nada inteiro
um dia alcançarei
essa beleza interdita
eu sou paciente
e a beleza é infinita
um dia que sabe nos encontremos
mas se isso for de todo impossível
estaremos sempre próximos
naquele local
onde o sonho se cruza com a realidade

@ com os agradecimentos à minha homy que me indicou o titulo :-)
publicado por crowe às 14:36
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