Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2005
Abre os olhos... sê calma!
Abre os olhos menino,
a Vida não espera.
Os ponteiros do relógio não param...
Acalma o sangue,
Embala a raiva... com múrmurios de gente...
sente!
Abre os olhos menino,
acorda para o mundo em calma!
Sorri ao sol e acena um adeus à nuvem cinzenta!
(publicado também em:
http://poiesis.blogs.sapo.pt)
Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2005
Reminiscência
Lembro-me muitas vezes daquela noite em que me pediste para te chamar um táxi.
Não querias que te levasse a casa, e nem pensar em ficares na minha.
Lembro-me do choque que foi olhar para ti e sentir que falavas a sério.
Também me lembro de te pedir para que não tomasses aquela decisão
pelo menos naquele momento!
Eu achava que as diferenças eram ultrapassáveis
Mas isso é algo que nunca poderemos descobrir não é?!
Tu não choraste
nem vacilaste.
Estavas segura, dona de ti. Apesar de eu saber que também tu sentias muito medo
Desceste a escada á minha frente. Eu sei que sentiste alivio quando o táxi buzinou lá fora. Estavas quase a perder a imagem de comando que querias passar para mim!
Abriste a porta do prédio e nem a agarraste para que não fechasse antes de eu sair
como fazias sempre. Sempre foste muito atenciosa
sempre deste importância a essas pequenas coisas que, dizias tu, faziam toda a diferença numa relação!
Deves ter achado que naquele momento seria um sinal de fraqueza. Penso eu porque nunca mo disseste. Mas eu não me importei e fiz questão de te abrir a porta do táxi. Queria olhar nos teus olhos quando chegasse a altura de entrares e mandares o motorista seguir.
Olhei para ti
É engraçado, mas lembro-me de que ao entrares a saia subiu e deixou as pernas á mostra! As pernas que tantas vezes beijara em noites louca de amor eram as mesmas que te levavam para longe de mim.
O táxi arrancou nem hesitaste quando o mandaste seguir - e eu fiquei ali, na estrada a ver-te sair da minha vida. Antes de entrar em cãs reparei num corvo que estava poisado no beiral do parapeito da minha janela. Na altura lembro-me de não dar muita importância
.Mas sempre é verdade o que dizem
Infelizmente descobri mais tarde. Mas tinha esperança que amanhã, mais calma, mudasses.
Sim
sabia que tu ias voltar. Tinhas de voltar. Afinal, fôramos feitos um para o outro
tu mesmo o disseras vezes sem conta. Sim. Voltarias!
Lembro-me do telefone tocar. Eras tu pensei. Tinhas acalmado. Querias que te fosse buscar. Querias voltar
Mas não. Era a tua irmã
a chorar.
Ao sair do táxi não tinhas reparado num outro carro que vinha a cruzar a estrada. Vinhas distraída disse-me ela
.
Sei hoje que foi das lágrimas que te encharcavam os olhos naquela noite!
O corvo que anunciou a tua viagem voltou com uma lágrima e um beijo teus. Depositou-os na brancura alva da minha almofada, contrastando o negro significado das suas penas com o imenso branco vazio e o perfume da tua almofada. Abriu as asas e voou
sei que volta de tempos a tempos
pelas penas negras que deixa ora na minha almofada, ora na tua!
Com a colaboração da Crowe que lhe deu o titulo e teve a simpatia de epilogar ;)